Quando Benjamin Netanyahu, primeiro‑ministro de Israel anunciou a criação de uma força‑tarefa especializada, o país inteiro reteve a respiração. A iniciativa, lançada na segunda‑feira, 12 de outubro de 2025, tem a missão de receber os 20 reféns israelenses ainda vivos e os restos mortais dos que já pereceram, tudo dentro do delicado cessar‑fogo que entrou em vigor dois dias antes.
Contexto histórico do conflito
Desde o início da ofensiva em outubro de 2023, a Hamas manteve mais de 48 israelenses como reféns, enquanto dezenas de milhares de palestinos foram deslocados. O número de mortos na Faixa de Gaza ultrapassou 30 mil, e cerca de 90% da população local ficou sem moradia. Tentativas de cessar‑fogo foram feitas ao longo de dois anos, mas nenhuma se sustentou até a mediação dos Estados‑Unidos, Egito e Qatar em 2024.
O primeiro acordo, apresentado pelo presidente Joe Biden, presidente dos EUA em maio de 2024, recebeu respaldo da Nações Unidas na Resolução 2735 (10 de junho de 2024). Apesar da assinatura por ambas as partes em janeiro de 2025, o cessar‑fogo iniciou em 19 de janeiro e foi rompido por bombardeios israelenses em 18 de março, após alegações de que o Hamas ainda não liberava todos os reféns.
Detalhes da nova força‑tarefa e do cessar‑fogo
O Acordo de Cessar‑Fogo Israel‑HamasGaza de 10 de outubro prevê duas fases: a entrega simultânea de reféns e prisioneiros, e a expansão gradual da ajuda humanitária. Na primeira fase, o ex‑conselheiro de Donald Trump, Jason Greenblatt, esteve presente ao lado de delegados americanos para supervisionar a troca.
De acordo com o exército israelense, quatro corpos foram repatriados no dia 12, e mais 24 conjuntos de restos deverão chegar nas próximas semanas. Enquanto isso, Israel começou a liberar 250 detidos palestinos, transportados para duas prisões perto da fronteira egípcia, com transferência planejada para 13 de outubro.
A Turquia anunciou, entre 6 e 12 de outubro, a formação de uma força‑tarefa internacional – com participação dos EUA e de outros países ainda não identificados – para localizar e identificar os restos ainda desaparecidos. A iniciativa surgiu após declarações de que o Hamas não teria certeza da localização de todos os corpos.
Do lado logístico, a Rafah, ponto de passagem entre Gaza e o Egito, passou a receber caminhões de ajuda. Segundo a Cruz Vermelha Egípcia, dezenas de veículos com mantimentos, medicamentos, tendas e combustível cruzaram o posto de controle no domingo, 12 de outubro.

Reações e declarações dos envolvidos
“É um alívio enorme ver nossos familiares voltarem para casa vivos”, declarou Miriam Cohen, irmã de um dos reféns liberados, em Tel Aviv. Já o porta‑voz do Hamas, Ismail Haniyeh, afirmou que a entrega dos corpos era “um gesto humanitário, mas que não altera a posição do movimento sobre a resistência”.
Nos Estados‑Unidos, o secretário de Estado Antony Blinken ressaltou que a “co‑operação multilateral” era crucial para garantir a credibilidade do acordo. “A Turquia está desempenhando um papel fundamental ao ajudar a identificar os restos, algo que traz conforto às famílias palestinas e israelenses”, destacou.
Por outro lado, críticos internos em Israel questionam se a troca de 20 reféns por 250 prisioneiros é equilibrada. O líder da oposição, Yair Lapid, disse que “não podemos abrir precedentes que coloquem nossa segurança em risco”.
Impactos humanitários e logísticos
Antes do cessar‑fogo, apenas 20% das necessidades humanitárias eram atendidas devido ao bloqueio e à constante troca de fogo. Agora, a projeção é de cerca de 600 caminhões por dia, com inspeção israelense antes da entrada. Ainda assim, organizações como a Anistia Internacional alertam que a qualidade dos suprimentos e a velocidade de distribuição permanecem incertas.
O número de palestinos deslocados caiu de 1,9 milhão para cerca de 1,4 milhão, já que algumas áreas foram reabastecidas. Contudo, a maioria dos retornados encontra casas demolidas ou danificadas, segundo relatórios da ONU.
Especialistas em logística humanitária apontam que a cooperação entre a Turquia, a ONU e a Cruz Vermelha Egípcia cria um “caminho de esperança”, mas ressaltam que a segurança nas rotas de entrega ainda é vulnerável a ataques esporádicos.

Perspectivas e próximos passos
O acordo tem vigência até o fim de março de 2026, salvo novas rupturas. A grande questão que paira no ar é a desmilitarização do Hamas – algo que não foi incluído na troca e que, segundo Netanyahu, continuará sendo “um ponto de negociação central”.
Analistas apontam que, se a troca de reféns for considerada bem‑sucedida, pode abrir espaço para negociações mais amplas sobre a governança de Gaza e a possível criação de um Estado palestino. Por outro lado, críticos temem que a liberação de 250 presos possa reforçar grupos armados, complicando a estabilidade a longo prazo.
Enquanto isso, as famílias de ambos os lados aguardam o retorno final dos restos mortais. A força‑tarefa turca, com equipes forenses enviadas a Gaza, deve concluir sua primeira fase de identificação até meados de novembro.
Perguntas Frequentes
Como a força‑tarefa turca vai identificar os restos mortais?
A Turquia enviará equipes forenses com tecnologia de DNA avançada para os cemitérios de Gaza. Elas trabalharão em conjunto com a Cruz Vermelha e autoridades israelenses, comparando amostras com bancos de dados familiares para confirmar identidades.
Quantos prisioneiros palestinos foram libertados até agora?
Até o momento, 250 detidos foram transferidos para duas prisões próximas à fronteira egípcia, com novidades previstas para o próximo dia 13 de outubro, quando a troca completa será concluída.
Qual é o papel dos Estados‑Unidos nessa negociação?
Os EUA, liderados inicialmente por Joe Biden e depois por representantes como Jason Greenblatt, atuaram como mediadores, garantindo a comunicação entre as partes e supervisionando a entrega dos reféns e dos prisioneiros.
O que isso significa para a população civil da Faixa de Gaza?
A população de Gaza deve receber um fluxo maior de alimentos, medicamentos e materiais de abrigo – estimado em até 600 caminhões diários – mas ainda depende das inspeções israelenses e da segurança nas rotas de entrega.
Quais são os próximos desafios para manter o cessar‑fogo?
Manter a confiança entre Israel e Hamas, impedir novos ataques, avançar na questão da desarmamentação do Hamas e garantir que a ajuda humanitária chegue sem interrupções são os maiores obstáculos a curto prazo.
Todo esse “acordo humanitário” cheira a plano secreto dos EUA para ganhar influência na região. Não é à toa que a Turquia apareceu de repente com força‑tarefa, como se fosse um aliado inesperado. Enquanto isso, as autoridades israelenses mantêm o controle sobre as rotas, o que levanta suspeitas de que algo maior está sendo orquestrado nos bastidores. O fato de que o número de corpos ainda é tão baixo indica que ainda há muito a ser escondido.
Alguns analistas afirmam que a ajuda humanitária pode ser usada como moeda de troca em negociações futuras, e isso não passa de mais um capítulo da mesma jogada de poder.