Do debut ao panteão do Barcelona
Quando Sergio Busquets estreou no primeiro time do Barcelona, ainda sob o comando de Pep Guardiola, poucos imaginavam que ele se tornaria a espinha dorsal de um dos períodos mais vitoriosos do clube. A primeira partida, em 2008, já mostrava um jogador calmo, capaz de ler o movimento da bola antes mesmo de ela chegar ao seu pé. Essa inteligência táctica foi a base da filosofia de posse que Guardiola exigia: pressão alta, recuperação imediata e circulação rápida.
Ao longo de 18 temporadas, Busquets acumulou mais de 700 jogos, juntando-se a lendas como Xavi, Iniesta e Messi. Cada partida demonstrava a mesma abordagem discreta: ocupar espaços vazios, bloquear linhas de passe adversárias e, ao mesmo tempo, oferecer opções de saída com passes curtos e precisos. Essa dualidade fez com que ele fosse tão indispensável quanto um atacante de ponta, embora raramente fosse o centro das atenções.
Os números falam por si. Nove La Liga, sete Copas del Rey, três Champions League, três Club World Cups e ainda recorde de 48 confrontos no El Clássico. Cada troféu carregava a marca de sua presença constante, seja no meio‑campo recuperando a bola ou na construção do ataque que terminou em gol. A capacidade de mudar o ritmo do jogo sem perder a compostura sob pressão tornou‑o o "coração" da equipe.
Além dos títulos, Busquets escreveu história ao atingir recordes raros no clube catalão. Foi um dos poucos jogadores a superar a marca dos 700 jogos, um feito que só Xavi, Iniesta e Messi também conseguiram. Seu nome ainda aparece como o dos maiores números de partidas em El Clássico, símbolo da rivalidade que ele ajudou a definir por quase duas décadas.

Legado e influência no futebol mundial
No cenário internacional, o papel de Busquets foi ainda mais simbólico. Com 143 convocações pela Espanha, integrou o triângulo mágico ao lado de Xavi e Iniesta. Esse trio ditou o estilo de posse que culminou na conquista da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, e na Eurocopa de 2012, onde a Espanha venceu a Itália por 4 a 0. Em ambos os torneios, Busquets não apenas recuperava a bola; ele a distribuía com a mesma elegância de um meio‑campo ofensivo, iniciando ataques que pareciam surgir do nada.
A chave da revolução de Busquets reside em sua capacidade de ser “invisível”. Diferente dos volantes tradicionais, que se destacam pela marcação agressiva, ele preferia se posicionar entre linhas, antecipando jogadas e interrompendo a progressão adversária antes que ela se tornasse perigosa. Essa percepção de espaço lhe permitiu iniciar transições rápidas, transformando a defesa em ataque em poucos segundos.
Essa abordagem passou a influenciar toda uma geração de volantes. Jogadores como Fabinho, Rodri, Declan Rice e N'Golo Kanté começaram a ser valorizados não só por sua capacidade de desarmar, mas também por seu toque de bola e visão de jogo. Em treinamentos de clubes de elite, o estudo de vídeos de Busquets tornou‑se rotina, demonstrando como um passe simples pode abrir a defesa inteira.
Em maio de 2023, após anunciar a saída do Barcelona, Busquets escolheu a MLS como novo lar, assinando com o Inter Miami. Lá, reencontrou antigos companheiros como Lionel Messi, Jordi Alba e Luis Suárez. Mesmo numa liga diferente, sua influência foi imediata: o clube levantou a Leagues Cup em 2023 e conquistou o Supporters’ Shield em 2024, graças à estabilidade que ele trouxe ao meio‑campo.
O afastamento da seleção espanhola, anunciado em dezembro de 2022, marcou o fim de uma era. Busquets foi o último a deixar o banco com a mesma composição que havia dominado o futebol mundial por quase uma década. Sua aposentadoria internacional foi recebida como o fechamento de um capítulo decisivo na história do futebol europeu.
Hoje, ao observar a evolução dos volantes, percebe‑se que a linha que separa defesa e criação praticamente desapareceu. Essa é a maior herança deixada por Busquets: provar que um número 6 pode ser tão criativo quanto um número 10, sem perder a solidez defensiva. O modelo que ele inaugurou continua a ser estudado, copiado e aprimorado por treinadores e jovens talentos ao redor do globo, garantindo que seu nome siga vivo nas estratégias de campo por muitas gerações futuras.
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