Quando Lincoln Oliveira anunciou, no sábado, 8 de novembro de 2025, que seu filho Gabriel Bortoleto estaria na classificação do Grande Prêmio do BrasilAutódromo José Carlos Pace — mesmo após o grave acidente na sprint —, os fãs brasileiros respiraram aliviados. "A equipe acredita que dá tempo", disse Oliveira, entre sorrisos tensos, no paddock de Interlagos. Mas o que parecia um sinal de esperança virou um drama de última volta. O jovem de 20 anos, piloto da Stake F1 Team Kick Sauber, não só não correu na classificação como também não completou a corrida principal. E tudo por causa de um acidente que, na verdade, aconteceu depois daquele anúncio. Sim, você leu certo.
Um acidente que não foi o primeiro
Na manhã de sábado, 8 de novembro, Bortoleto sofreu um impacto violento na 24ª volta da sprint race, na curva 4 de Interlagos. O carro, um Stake C44, perdeu a suspensão traseira esquerda após colisão com barreira de pneus. Os mecânicos da equipe suíça trabalharam como loucos — 22 horas seguidas — para tentar reconstruir o chassi. O pai, Lincoln, admitiu à Terra que "viu o susto no rosto dos técnicos". Mas o que ninguém contou naquele momento: o pior ainda estava por vir.Classificação? Não houve. A corrida foi o verdadeiro teste
O anúncio de Oliveira foi feito às 16h30 de São Paulo, logo após a sprint. A equipe, comandada pelo diretor técnico Xevi Pujolar, prometeu que o carro estaria pronto. Mas o dano era mais profundo do que aparentava. As fissuras na caixa de câmbio e no sistema de refrigeração não foram totalmente corrigidas. Quando Bortoleto saiu da garagem no domingo, às 13h30, o carro tinha um desempenho instável — e ele sabia. "Estou correndo com o coração na mão", disse ele, em entrevista pré-corrida.A última volta que não terminou
Na 71ª e última volta da corrida principal, Bortoleto estava em 10º lugar — a porta de entrada para os pontos. Na F1, 10º dá 1 ponto. Um ponto que poderia mover sua posição no campeonato, onde entrava em 15º com apenas 12 pontos acumulados. Faltavam 800 metros para a linha de chegada quando ele tentou passar Alexander Albon, da Williams Racing, na curva 12. O carro brasileiro, já comprometido, perdeu tração. Albon, que pilotava com precisão cirúrgica, não teve tempo de desviar. A colisão foi suave, mas suficiente. O Sauber rodou, encostou na barreira de proteção e parou. A bandeira vermelha caiu. O safety car entrou. A corrida terminou sem Bortoleto.
Quem ganhou? Quem perdeu?
Albon, que terminou em 9º, não sofreu danos em seu FW47. A Williams confirmou: "O carro estava 100% após a passagem". Já a Sauber, em coletiva de imprensa, admitiu: "Fizemos o possível, mas o dano da sprint foi irreversível para o desempenho completo". Xevi Pujolar, com os olhos vermelhos, disse: "Não foi falha técnica. Foi má sorte. E o tempo, na verdade, não deu".Lincoln Oliveira, que havia sido o símbolo da esperança, não apareceu no pódio. Ficou no box, de braços cruzados, olhando o carro queimado. "Foi um fim triste, mas ele deu tudo. Isso é o que importa", disse ele, em tom baixo, ao sair do circuito.
O que isso muda para o futuro?
Bortoleto, nascido em São Paulo em 17 de março de 2005, é a maior promessa brasileira da F1 desde Felipe Massa. Sua chegada à equipe suíça foi vista como um sinal de renascimento do automobilismo nacional. Mas o GP do Brasil expôs uma realidade dura: equipes menores não têm margem para erros. Enquanto Red Bull e Mercedes gastam milhões em testes de simulação, a Sauber depende de peças reutilizadas e tempo precário. O acidente de Interlagos não foi só um fracasso técnico — foi um alerta.Na próxima corrida, em Las Vegas, a equipe prometeu um novo chassi. Mas será que terão tempo? E será que o jovem piloto terá a confiança da equipe — e dos torcedores — para pilotar de novo?
Por que Interlagos sempre dói tanto?
O Autódromo José Carlos Pace, com seus 4,309 km de curvas abruptas e piso irregular, é um dos circuitos mais exigentes da F1. Desde 1973, só não sediou o GP em 1981 e entre 1989 e 1990. É lá que Massa perdeu o campeonato em 2008. É lá que Senna venceu pela última vez em 1993. É lá que, em 2025, um garoto de 20 anos tentou fazer história — e quase conseguiu.Frequently Asked Questions
Por que o pai de Bortoleto disse que "dá tempo" se o carro já estava tão danificado?
Lincoln Oliveira se baseou na avaliação inicial da equipe, que acreditava poder consertar o chassi em 22 horas. A Sauber tinha experiência em reparos de emergência, como no GP da Áustria, quando recuperaram o carro de Zhou Guanyu em menos de 18 horas. Mas o dano em Interlagos era estrutural — e isso só foi confirmado depois da análise detalhada, já no domingo de manhã. O otimismo era real, mas infelizmente não correspondia à realidade técnica.
Como o acidente afetou a classificação de Bortoleto no campeonato?
Antes do GP do Brasil, Bortoleto tinha 12 pontos e estava em 15º. Ao não pontuar, permaneceu com os mesmos 12 pontos, mas caiu para 16º no campeonato, ultrapassado por Esteban Ocon, que marcou 2 pontos na corrida. Cada ponto é crucial agora, com apenas quatro corridas restantes. O gap para o top 10 é de 27 pontos — difícil, mas não impossível, se o carro for confiável nas próximas pistas.
O que aconteceu com o carro de Bortoleto após a corrida?
O Sauber C44 foi retirado do circuito em uma carreta e levado ao centro de manutenção da equipe em Hinwil, Suíça. A estrutura principal do chassi está considerada inutilizável. A equipe já iniciou a montagem de um novo carro, com base no protótipo de reserva, mas isso só estará pronto para a corrida de Las Vegas, em 22 de novembro. Bortoleto não terá acesso ao carro de Interlagos novamente.
Alexander Albon foi responsabilizado pelo acidente?
A FIA analisou o acidente e concluiu que foi um incidente de corrida. Albon não foi penalizado, pois estava dentro da faixa de corrida e não fez movimento agressivo. O juiz de pista afirmou que Bortoleto "tentou um espaço que o carro não tinha mais condições de oferecer". Albon, em entrevista, disse: "Foi triste, mas é F1. Ele estava lá, e eu não podia recuar. Ainda assim, enviei um abraço a ele e à família".
Bortoleto vai correr na próxima corrida, em Las Vegas?
Sim. A equipe confirmou que ele pilotará o novo chassi de reserva, que passou por testes de segurança e desempenho em Mônaco. Ainda assim, o piloto está sob observação psicológica — o trauma do acidente em casa pesa. O técnico Xevi Pujolar afirmou: "Ele é corajoso. Mas coragem não é ignorar o medo. É seguir em frente mesmo com ele".
Por que a Sauber ainda não tem um novo carro completo?
A equipe, de orçamento limitado, não tem capacidade de produzir carros novos como as grandes equipes. Em 2025, a Sauber gastou cerca de R$ 120 milhões em desenvolvimento — menos da metade da Mercedes. Por isso, recorrem a carros de reserva, peças reaproveitadas e simulações. O acidente em Interlagos expôs essa fragilidade. A FIA já discute mudanças no regulamento para ajudar equipes menores, mas nada foi aprovado ainda.
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